Os primeiros looks que surgem na passarela dão o tom do desfile. As modelos, vestidas de bodies com cortes gráficos, enlaçadas de bolsas transpassadas que remetem às aljavas, prontamente personificam a amazona, cuja impetuosidade e desenvoltura guiam o desfile. Iniciando um novo diálogo entre alta-costura e tecnicidade, a Diretora Artística destila, ao longo de suas criações, um léxico esportivo revisitado. Tops, por vezes inteiramente bordados de pedrarias multifacetadas, ternos e conjuntos inspirados no universo das corridas automobilísticas, bermudas e sapatos de boxe, jaquetas e casacos adornados com correias e mosquetões brincam com essa tensão entre conforto, sofisticação e praticidade.

A ideia de movimento transparece, ecoando os arquivos da Maison. Começando pelo vestido Amazone, desenhado por Christian Dior para a coleção outono-inverno 1951-1952, cujo decote assimétrico reverbera nos bodies, nas camisas oversize ou nos vestidos em malha com inspiração vestal, evocando as diversas representações das mulheres ao longo dos séculos. Em tributo à paixão do estilista-fundador pela arte da construção, alguns modelos revisitam os ternos masculinos, graças a um virtuoso exercício de volumes e drapeados.

Continuando uma reflexão sobre o corpo e a agilidade — de ação e espírito — no feminino, os modelos também emprestam do vocabulário sportswear sua cultura visual tão característica. O logotipo “Dior” se metamorfoseia em uma versão gráfica inédita para pontuar as peças. Esticadas ao extremo, as letras se camuflam em linhas hipnotizantes, que ousam todos os contrastes e traduzem esse impulso ultramoderno que permeia a coleção.

Um ímpeto amplificado pelo cenário encantador do desfile, onde a artista e arqueira SAGG Napoli presenteou o público com uma demonstração de tiro com arco, encarnando com precisão essa amazona contemporânea, rebelde, indomável, inabalável, triunfante.